domingo, junho 29, 2008

Caixas do Passado


CAIXAS DO PASSADO
(Eloah Borda)

Talvez num surto de melancolia,
eu resolvi rever os meus guardados
e pus-me a abrir as caixas do passado,
onde guardei meus sonhos e alegrias.

Cartas de amor... cartões... fotografias...
Recortes de jornal já amarelados
(momentos meus, no tempo congelados),
lembranças do que fui, e tive, um dia...

Lembranças, nada mais (pra quê revê-las?),
são como o brilho de uma extinta estrela
- uma ilusão, sabendo à despedida...

Estranha sensação, ver tanta vida
assim, tão morta já, fria, silente,
ao alcance das mãos, e tão distante!...

(D.A.Reservados)

quarta-feira, junho 25, 2008

Momentos


MOMENTOS
(Eloah Borda)

Hoje estou triste, e triste é o meu soneto,
só estou escrevendo pra desabafar;
nem mesmo sei se as rimas vou achar,
e até talvez saia algum verso manco.

Pra começar, chove demais... Lá fora
tudo é cinzento e frio... E este vento,
aos meus ouvidos soa qual lamento,
das dores mudas dos poetas tristes...

Riscam os céus, relâmpagos, me encolho
- as tempestades sempre me assustaram -
e tensa espero o estrondo do trovão...

Sinto-me, então, criança, indefesa,
e aqui tão só, tão triste, nestes versos,
tento espantar o medo e a solidão.

(D.A.Reservados).

segunda-feira, junho 23, 2008

Insone



INSONE

Madrugada...
Insone...
Solidão...

As horas se arrastam cansadas,
pesadas, frias,
vazias...
- nem mesmo Morfeu
parece querer
acolher-me em seus oníricos braços...

Só esta sensação de vazio,
este aperto no peito...

Enquanto Hipnos me nega
seu refúgio,
seu conforto,
escrevo...

Tão somente escrevo
- sem vôos poéticos –
sem palavras bonitas,
sem frases de efeito
sem rimas,
sem métrica.
Apenas descrevo,
registro o que penso
tentando afastar meus fantasmas,
preencher
o vazio do momento...

Porque não quero pensar,
não quero lembrar,
- tampouco falar de amor...

Quero apenas dormir,
sonhar talvez,
mas o sono não chega...

Fico a olhar, então, pela janela,
procurando lá fora
alguma coisa
que ocupe o meu pensamento,
que me faça esquecer
de coisas que não quero lembrar.

Mas, a esta hora,
a rua está quase deserta,
parece vazia...
Uma densa neblina envolve tudo
- as lâmpadas emitem uma luz difusa,
fantasmagórica,
e as mais distantes,
cujos postes tornaram-se invisíveis na neblina,
dão a impressão de estarem soltas no ar
- uma estranha visão...

E este silencio
(que chega parecer palpável,
úmido... pesado...),
só quebrado,
esporadicamente,
pelo barulho do motor de algum carro,
que, num instante,
surge e some na escuridão...

De vez em quando,
vejo um vulto, impreciso,
emergir da neblina,
aproximar-se,
e passar, como uma sombra,
para em seguida sumir,
(juntamente com o ruído cadenciado,
de seus passos na calçada),
como que vindo do nada,
e indo para lugar nenhum...

De novo o silêncio,
as luzes difusas,
a neblina,
a rua
vazia...

E eu...
só...
insone...
desejando não ser eu,
estar longe de mim
- ser apenas mais um vulto,
envolto na neblina,
dessa rua semideserta,
indo também para lugar nenhum...

... ou talvez em busca
de um novo amanhecer...

(Eloah Borda – D.A.Reservados
)

sábado, junho 14, 2008

De Passagem



DE PASSAGEM
(Eloah Borda)

Eu sei
que estou em tua vida,
apenas de passagem,
por isso,
não trago esperanças,
nem sonhos, nem planos
na minha bagagem.
Só trago, no coração,
uma paixão meio louca
(como o são as paixões),
muito carinho e ternura,
e um amor tão bonito,
como igual, ninguém, eu creio,
jamais teve pra te dar.

Não quero lançar raízes,
me tornar teu dia-a-dia,
intrometer-me em tua vida,
cobrar seja lá o que for.
Eu apenas quero ser
- ser amiga, companheira,
poder estar ao teu lado
e ser tua enquanto, e quando,
minha presença puder
te fazer muito feliz.

Quero ser só teu presente
- sem ontem, sem amanhã -
ser teu hoje, teu agora,
sempre o teu melhor momento,
dando-me a ti, por inteiro
- corpo, alma, coração -,
sem perguntas, sem promessas,
sem nada pedir em troca
além de tua presença,
teu carinho, teu desejo
- ser, meu amor, teu refúgio,
ser teu prazer, tua paz...

É assim, amor, que sou,
e é assim que me dou,
pra ti, sem medos ou culpas.

E quando chegar a hora
de sair de tua vida,
só quero levar saudades,
lembranças boas de nós
- dos momentos de nós dois,
para os recordar depois,
e pensar: “valeu a pena”...


... mas ah, que tolice a minha...
isso tudo é uma ilusão,
um desejo irrealizável,
uma doce fantasia
com que, tola, ouso sonhar
- mesmo esse pouco que peço
(“vês que nem te peço amor”),
bem sei, não tens pra me dar...

(D.A.Reservados)

quinta-feira, junho 05, 2008

Um tempo do teu tempo

UM TEMPO DO TEU TEMPO

Um tempo do teu tempo,
é tudo que te peço
- um tempo do teu tempo
só pra nós,
e para esta paixão
que já me tira o sono,
já me tira o chão...
Me queres e eu te quero
- então, por que não?!
A vida são momentos,
momentos que se vão,
e não retornam mais,
e os desperdiçar,
é jogar vida fora.
Por isso é que eu te peço, amor,
só um tempo do teu tempo pra nós dois
- um tempo aqui e agora,
não deixes pra depois...

(Eloah Borda- D.A.Reservados)

terça-feira, junho 03, 2008

DILCE FAR NIENTE


DOLCE FAR NIENTE
(Eloah Borda)

Correr descalça na praia
rolar na areia molhada,
gritar a plenos pulmões
deixando o vento levar
os gritos para o alto mar!...

Deixar perder-se o olhar
- embriagado de horizontes –
num céu de perder de vista,
enchendo a alma de azul!...

Jogar-se n’água gelada,
sentir o corpo arrepiar-se,
menos de frio que prazer...
Pular ondas, mergulhar;
ser criança, ser sereia,
ser peixe, ser mar, areia,
onda, espuma, vento sol!

Sonhar,
sonhar simplesmente,
longe do mundo real.
Libertar-se da rotina,
do estresse do dia-a-dia,
ser parte da natureza,
integrar-se na paisagem,
ser o que bem entender
- ou até mesmo, nada ser -
num tempo e espaço só nossos
- um paraíso pessoal...

...Somente existir, viver,
deixando o tempo passar
num doce nada fazer!...

(D.A.Reservados)