segunda-feira, janeiro 26, 2009

Elegias


ELEGIAS

Foi tanto bem-querer, tanta afeição,
tanta admiração, tanto carinho,
que o amor foi se achegando e, de mansinho,
tomou conta de mim, se fez paixão.

E, louca, eu me perdi nos teus caminhos,
e foi tanto sonhar, tanta ilusão,
e tanto o engano, a idealização,
que só vi flores onde havia espinhos....

Porém a realidade impôs-se, e enfim,
arrebatou-me o véu da fantasia
- fez-me te ver como és... Mas, mesmo assim,

meu tolo coração (que ainda é teu),
te chora em versos, compondo elegias,
saudoso da mentira em que viveu...

(Eloah Borda-D.A.Reservados)

sábado, janeiro 17, 2009

Há Dias...













Há dias
de alegria pura,
dias de ternura,
plenos de luz,
em que me sinto um sol,
mesmo que chova a cântaros lá fora...
Dias
em que me sinto primavera,
toda cores, flores, céu azul
canto de pássaros,
não importa a estação
- são dias em que o amor
canta em meu coração!

Há dias
em que me sinto um tórrido verão,
mesmo que seja rigoroso inverno...
São dias quentes, intensos,
que me queimam,
devoram-me por dentro
- são fogo, são chamas,
são dias de paixão!

Há dias
de melancolia, de recolhimento,
de introspecção,
em que a tristeza me invade
e eu me sinto
paisagem outonal,
árvore desfolhada,
cercada de folhas secas
revoltas pelo vento
- minhas recordações,
momentos meus,
redemoinhando
no meu pensamento,
tão perto e, no entanto,
tão distantes...
... são meus dias de saudade...

Há dias
em que o frio
do mais duro inverno,
penetra em minha alma,
enregela o meu coração
- são dias de desencanto,
desamor, desilusão...


E há dias
bem mais duros
- tensos, pesados,
escuros -
em que sou apenas
perplexidade...
São os dias
em que não posso evitar
de olhar de frente,
cara à cara,
para esse mundo caótico
que aí está,
com suas guerras, miséria, fome,
seus crimes hediondos,
sua ganância, mentiras, corrupção,
insensibilidade...
Dias
em que eu já nem sei mais quem sou
- quem, ou o que somos todos nós,
humanos desumanos -
ficando a me perguntar,
se não serei apenas
personagem
de meus próprios pesadelos...

(Eloah Borda-D.A.Reservados)

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Vida-Poesia

(Euterpe - pintura de Camile Roqueplan)

VIDA-POESIA


Nasci poesia, chorando

em versos bárbaros...longos!...

Logo aprendi a sorrir

em duplix, poetrix,

e creio, sonhei haicais...

 

Fui crescendo em setissílabos,

trovando e fazendo rimas

em quadrinhas infantis...

 

Adolesci versos livres,

cantando amor, esperanças,

- lindos sonhos cor-de-rosa!

 

E fui amadurecendo

decassilabicamente,

a sonetar ilusões,

paixões avassaladores,

alegrias e tristezas,

- amargas decepções...

 

Envelheço alexandrinos,

compondo recordações,

rimando amor com saudade,

futuro, com solidão...

 

(Eloah Borda-D.A.Reservados)


terça-feira, janeiro 06, 2009

Infância


INFÂNCIA

Infância livre
Casa na árvore
Pés no riacho
Correr na grama.
Rodar o arco
Jogar pedrinhas
Gado de osso
Na mangueirinha.

Leite fresquinho
Água de poço
Ouvir o canto
Da passarada
Galo cantando
Na madrugada.

Empoleirar-se
Em pés de lata
Ir catar ovos
Dentro da mata
Oh, não de pássaros,
Mas de galinhas
- Frangas fujonas
Fazendo ninhos
No matagal.

Frutas fresquinhas
- Peras, laranjas,
Uvas e limas
Lá no quintal...

Noite estrelada
Num céu inteiro
Até o horizonte
Para se olhar.

Dormir ouvindo
O cri-cri dos grilos
E o arvoredo
A farfalhar.

Sonhar com duendes
Bruxas malvadas
Varinha mágica,
Bichos falantes,
ogros e fadas
- Mundo encantado
Em que as crianças,
Naquele tempo,
Acreditavam.

Quanta saudade
Mágica infância
Bela e distante
Quase esquecida
Lá no passado!

Que diferente
Da infância de hoje
Numa cidade!...

(Eloah Borda-D.A.Reservados).