terça-feira, novembro 23, 2010

Considerações sobre "ser"


Considerações sobre “ser”...

Desvestida de vaidades,
consciente do meu tamanho,
do meu lugar e importância
neste mundo em que vivemos,
não me sentindo inferior,
ou superior a ninguém,
e nem tampouco igual,
eu sou tão somente eu
- una e multiplicidade,
pois faço parte do todo
e o todo tenho em mim.

Em minhas células trago
genes dos meus ancestrais,
de incontáveis gerações
(sou, portanto, multidão)
e que nos meus descendentes
- mesmo depois que eu me for –
a viver continuarão,
sendo eu mortal e imortal...

Sou macro e micro espaço,
somente questão de enfoque,
de ponto de referência
- sendo universo infinito
pra quaisquer microorganismos
que, pra meu bem ou meu mal,
o meu organismo habitem,
mas infinitesimal
tendo em vista, já nem digo,
a imensidão do universo,
nem mesmo a nossa galáxia,
mas só o sistema solar...

Sou porta aberta ao futuro
sou constante aprendizado,
mas também o resultado
de ensinamentos passados
- daqueles que já se foram
deixando-me o seu legado.

E sou um “ser transição”,
que vem do que já se foi
para o que ainda não é,
e que ao “ser,” também se irá,
e assim até que se escoe
o meu derradeiro grão,
na “cintura” da ampulheta,
onde a areia da vida
vai na contramão do tempo,
do futuro pra o passado,
deslizando em marcha à ré...

Mas em todo esse contexto,
no meu aqui e agora,
tenho um cantinho só meu,
exato do meu tamanho,
no lugar certo pra mim
e a importância devida
- é o meu pequeno universo,
meu mundo particular,
que me faz plena, completa
e onde, com muito orgulho,
junto com aqueles que amo,
simplesmente posso ser
tudo que importa pra mim
- mulher, mãe, avó e poeta...

(Eloah Borda)

quinta-feira, outubro 07, 2010

Amigo Mar


Amigo Mar

Amigo mar, eu já não posso ver-te,
já não te alcança mais o meu olhar,
pois, pouco a pouco, essas construções,
foram tomando o espaço entre nós dois,
- daqui, só posso ouvir teu marulhar...

Se esse teu marulhar é canto ou pranto,
depende, dizem, dos ouvidos que te escutam -
que aos corações felizes, soa canto,
mas soa pranto, aos corações feridos...

... amigo mar, por que tu choras tanto?!...

(Eloah Borda)

Talvez goste de ver: Nas Trilhas dos Sonetos e Poliantéia

domingo, setembro 05, 2010

Poeta no Cardiologista


Poeta no cardiologista

Meu coração, doutor, não sei por que,
anda, faz tempo já, descompassado
- ora dispara qual potro indomado,
ora parece até querer parar...

Eu sei, doutor, que ele, emocionalmente,
instável sempre foi, rebelde, inquieto,
mas o que sinto agora é diferente,
e não é um mal de amor, tenho certeza
- males de amor eu muito bem conheço
e já com eles sei como lidar.

Por isso o estou deixando aos seus cuidados,
para que o possa então examinar,
buscando as causas deste desconforto,
e uma maneira de o minimizar,
porque tal descompasso já me inquieta.

Mas lhe peço, doutor, tenha cuidado
com este tão forte-frágil coração
(mesmo que não consiga compreendê-lo,
em toda a sua subjetividade)
trate-o com paciência, com desvelo,
pois não é só uma bomba muscular
a impulsionar o sangue por meu corpo
- ele é um sensível coração de poeta,
fonte de amor, de sonho e inspiração...

(Eloah Borda)

Talvez goste de ver:
Nas Trilhas dos Sonetos e Poliantéia

domingo, agosto 22, 2010

De Partida


DE PARTIDA

Cansei desta vida
de dias sofridos,
de esperas inúteis,
de sobras de amor.

De dias vazios,
de noites insones,
de vida mosaico
composta de cacos
de amores perdidos,
de planos desfeitos,
e esperanças vãs
- mosaico que é feito
com pedras de dor.

Cansei, vou embora,
já estou de partida,
pra onde nem sei
- só sei que é pra longe
de tudo que fui,
de tudo que sou,
que não mais serei.

E irei construindo
meus novos caminhos,
deixando tristezas,
lembranças, cansaços
e desilusões.

Levando na mala
(e é tudo que tenho)
meu auto-respeito
e a dignidade
que nunca perdi;
bastante amor próprio,
lições aprendidas,
determinação.

Estou de partida,
um tempo encerrando,
sem dúvida ou medo,
sem olhar pra trás,
- com a alma lavada,
coração em paz...

(Eloah Borda)
Talvez goste de ver: Nas Trilhas dos Sonetos e Poliantéia

sábado, julho 10, 2010

Coração Distraído


CORAÇÃO DISTRAIDO

Meu coração, distraído,
tropeçou numa ilusão,
caiu em um mar de sonhos,
encharcou-se de esperanças,
perdeu pé da realidade,
mergulhou na fantasia
e afundou numa paixão
- que era canto de sereia
belo castelo de areia,
que a onda veio e levou...

E hoje qual navio-fantasma,
sem leme, sem direção,
envolto no nevoeiro
da total abstração,
carregado de descrença
desencanto, solidão,
pelo mar da indiferença,
à-toa, ao sabor do vento
vagueia este coração...

(Eloah Borda)

Talvez goste de ver: Nas Trilhas dos Sonetos e Poliantéia

quarta-feira, junho 30, 2010

Partidos (política)


PARTIDOS

“São organizações, cujos membros realizam
ações comuns com fins político-sociais,
pessoas unidas pelos mesmos objetivos,
e pelos mesmos interesses e ideais”...

Esta é a definição que está no dicionário
e o quê, na realidade, deveriam ser
- infelizmente a ideologia partidária
já não importa na disputa de poder.

O que mais conta é garantir os privilégios,
a mordomia, os cargos, os salários régios
- perpetuação no “éden” governamental.

E é um toma lá, dá cá, uma triste barganha,
perderam se os limites, perdeu-se a vergonha
no vale-tudo da corrida eleitoral

(Eloah Borda)

Talvez goste de ver: Nas Trilhas dos Sonetos e Poliantéia

sábado, maio 29, 2010

Guerras


Guerras

Elas vêm sempre camufladas,
disfarçadas, travestidas
de nobres ideais:

luta-se pela fé,
pela paz,
pela pátria
pela liberdade...

Mentiras!

Elas são, todas, filhas da ganância.
do desejo desmedido de poder,
do ódio, da intolerância,
da insensibilidade...

Da atávica bestialidade
que ainda subsiste,
latente,
dentro do homem
“pseudamente” civilizado...


(Eloah Borda)

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Momento Nostálgico



MOMENTO NOSTÁLGICO

Saudade
de jardins sem muros,
de janelas sem grades,
de portas sem trancas
e ferrolhos...

Saudade
de crianças brincando nas calçadas,
a jogar amarelinha, a brincar de roda,
de pique esconde, ou a contar histórias,
sem nada temer
- sem o perigo
a rondar sua inocência...

Saudade
de quando droga
era apenas uma coisa sem valor,
sem qualidade,
ou então
medicamento,
e bandido,
apenas personagem
de filmes de Far West
onde o “mocinho”
sempre levava a melhor...

Saudade
das noites tranqüilas,
do cri, cri, dos grilos,
do coaxar das rãs
- de dormir em paz -
com o canto da natureza
a embalar nossos sonhos...

Sem sirenas
sem tiroteios
sem balas perdidas
brigas de quadrilhas,
assaltos,
arrastões...

...pesadelos vivos...


(Eloah Borda)