INSONE
Madrugada...
Insone...
Solidão...
As horas se arrastam cansadas,
pesadas, frias,
vazias...
- nem mesmo Morfeu
parece querer
acolher-me em seus oníricos braços...
Só esta sensação de vazio,
este aperto no peito...
Enquanto Hipnos me nega
seu refúgio,
seu conforto,
escrevo...
Tão somente escrevo
- sem vôos poéticos –
sem palavras bonitas,
sem frases de efeito
sem rimas,
sem métrica.
Apenas descrevo,
registro o que penso
tentando afastar meus fantasmas,
preencher
o vazio do momento...
Porque não quero pensar,
não quero lembrar,
- tampouco falar de amor...
Quero apenas dormir,
sonhar talvez,
mas o sono não chega...
Fico a olhar, então, pela janela,
procurando lá fora
alguma coisa
que ocupe o meu pensamento,
que me faça esquecer
de coisas que não quero lembrar.
Mas, a esta hora,
a rua está quase deserta,
parece vazia...
Uma densa neblina envolve tudo
- as lâmpadas emitem uma luz difusa,
fantasmagórica,
e as mais distantes,
cujos postes tornaram-se invisíveis na neblina,
dão a impressão de estarem soltas no ar
- uma estranha visão...
E este silencio
(que chega parecer palpável,
úmido... pesado...),
só quebrado,
esporadicamente,
pelo barulho do motor de algum carro,
que, num instante,
surge e some na escuridão...
De vez em quando,
vejo um vulto, impreciso,
emergir da neblina,
aproximar-se,
e passar, como uma sombra,
para em seguida sumir,
(juntamente com o ruído cadenciado,
de seus passos na calçada),
como que vindo do nada,
e indo para lugar nenhum...
De novo o silêncio,
as luzes difusas,
a neblina,
a rua
vazia...
E eu...
só...
insone...
desejando não ser eu,
estar longe de mim
- ser apenas mais um vulto,
envolto na neblina,
dessa rua semideserta,
indo também para lugar nenhum...
... ou talvez em busca
de um novo amanhecer...
(Eloah Borda – D.A.Reservados)
2 comentários:
Lindo, lindo, lindo!
Parabens.
Liane.
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