TEMPESTADE DE VERÃO
(Eloah Borda)
E sobre a tarde desce um véu cinzento
- nuvens se adensam, prenhes de tormenta -
miniremoinhos, filhotes de vento,
brincam de rodopiar pela calçada...
Há uma calma irreal, morna, pesada,
já prenunciando a tempestade... O vento,
de repente se faz forte, violento,
e o céu desaba num fragor de raios,
trovões, chuva, granizo, ventania!
O que era calma, agora se fez fúria,
e o que já era cinzento, escuridão,
foi-se a energia elétrica, e eu mal vejo
à luz intermitente dos relâmpagos,
a folha de papel na qual escrevo.
Decido: escreverei à luz de velas,
pois não vou permitir que esta tormenta,
que já apagou, na tarde, a luz do dia
- e agora apaga a luz artificial -
também apague a minha poesia...
Mas em seguida tudo passa, e o vento,
agora ameno, tange céus afora,
restos de nuvens, paridas, vazias,
por entre as quais vazam raios de sol
- um sol que já se vai rumo ao poente,
tingindo de dourado o fim da tarde,
com toques de vermelho no horizonte
- o que era fúria, se faz calmaria,
o que era escuridão, volta a ser dia.
Gotas ainda pingam dos beirais,
no ar há um cheiro de terra molhada,
e espanejando-se nas poças d’água,
estão a refrescar-se alguns pardais.
E tudo agora é paz...
Fico a pensar, então, que bom seria,
nossas tormentas fossem passageiras
como essas tempestades de verão...
Mas tem, o coração, seu próprio tempo,
e estou ainda a esperar... Quem sabe,
um dia, o vento bom do esquecimento,
venha varrer meu céu, levando enfim,
todos os restos dos meus temporais...
(Eloah Borda)
E sobre a tarde desce um véu cinzento
- nuvens se adensam, prenhes de tormenta -
miniremoinhos, filhotes de vento,
brincam de rodopiar pela calçada...
Há uma calma irreal, morna, pesada,
já prenunciando a tempestade... O vento,
de repente se faz forte, violento,
e o céu desaba num fragor de raios,
trovões, chuva, granizo, ventania!
O que era calma, agora se fez fúria,
e o que já era cinzento, escuridão,
foi-se a energia elétrica, e eu mal vejo
à luz intermitente dos relâmpagos,
a folha de papel na qual escrevo.
Decido: escreverei à luz de velas,
pois não vou permitir que esta tormenta,
que já apagou, na tarde, a luz do dia
- e agora apaga a luz artificial -
também apague a minha poesia...
Mas em seguida tudo passa, e o vento,
agora ameno, tange céus afora,
restos de nuvens, paridas, vazias,
por entre as quais vazam raios de sol
- um sol que já se vai rumo ao poente,
tingindo de dourado o fim da tarde,
com toques de vermelho no horizonte
- o que era fúria, se faz calmaria,
o que era escuridão, volta a ser dia.
Gotas ainda pingam dos beirais,
no ar há um cheiro de terra molhada,
e espanejando-se nas poças d’água,
estão a refrescar-se alguns pardais.
E tudo agora é paz...
Fico a pensar, então, que bom seria,
nossas tormentas fossem passageiras
como essas tempestades de verão...
Mas tem, o coração, seu próprio tempo,
e estou ainda a esperar... Quem sabe,
um dia, o vento bom do esquecimento,
venha varrer meu céu, levando enfim,
todos os restos dos meus temporais...
... e o sol volte a brilhar no meu jardim,
e cantem pássaros nos meus beirais...
e cantem pássaros nos meus beirais...
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